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Brasil falha no monitoramento do uso de agrotóxicos

"Brasil está se tornando a maior lixeira tóxica do mundo", alertou Cleber Folgado, representante da organização Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos


Agência Senado

Falhas na coordenação do trabalho de órgãos da agricultura, saúde e meio ambiente responsáveis pelo monitoramento do uso de agrotóxicos no país limitam muito a capacidade do governo de evitar que alimentos contaminados cheguem à mesa dos brasileiros. O problema foi apontado pelos participantes de audiência pública realizada no último dia 22 na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).

Atualmente, o Ministério da Agricultura faz o monitoramento da produção na área rural e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analisa amostras dos alimentos comercializados no varejo. Já os órgãos do Ministério do Meio Ambiente trabalham para impedir que haja contaminação de solo e de recursos hídricos.

Primeiro a falar na audiência, Guilherme Guimarães, representante do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola, defendeu a centralização do processo de monitoramento, com a criação de um programa único federal.

A sugestão, no entanto, foi rejeitada por todos os representantes do governo. Falando em nome do Ministério da Saúde, Daniela Buosi ponderou que os órgãos que atuam no controle de agrotóxicos têm competências específicas, não sendo factível agrupar a ação de todos em um único programa. Ela, no entanto, defendeu a unificação das informações geradas.

– Um programa único para monitoramento é inviável, mas é importante que todos [os órgãos] coloquem seus pontos de vista e, ao final, se chegue a uma conclusão do que pode ser liberado – opinou.

Em resposta ao senador Delcídio Amaral (PT-MS), Daniela Buosi negou que haja divergências entre os órgãos, dizendo que o que ocorre são visões diferenciadas de acordo com o foco da saúde, agricultura ou meio ambiente.

A opinião foi compartilhada por Sergia Oliveira, do Ministério do Meio Ambiente. Para ela, o conjunto de enfoques no processo de monitoramento é essencial para garantir maior segurança aos brasileiros.

Alimentos contaminados

A forma de divulgação das análises feitas pela Anvisa em amostras de alimentos foi outro aspecto muito discutido na audiência. De 2002 a 2010, foram analisadas 14.712 amostras de produtos disponibilizados nas gôndolas dos supermercados, conforme dados do representante da agência, Luiz Cláudio Meirelles.

Para Alécio Maróstica, da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a agência deveria apontar os responsáveis quando identificar níveis inadequados de agrotóxicos em determinada cultura, para evitar que todos os produtores dessa cultura tenham prejuízos com a divulgação da informação sobre contaminação.

– O produto tem que sair da propriedade com responsabilidade técnica e essa responsabilidade tem que estar na gôndola do supermercado – sugeriu.

O senador Waldemir Moka (PMDB-MS) concordou com a proposta. Para ele, os agricultores têm compromisso com a produção de alimentos e querem produzir direito, seguindo a orientação técnica.

Luiz Rangel, da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, reconheceu que há falhas na comunicação dos resultados das análises, em especial quando há riscos para os consumidores.

– Infelizmente não existe efetividade no trabalho que é feito. Temos nos esforçados para gerar informações, mas não temos conseguido ser competentes para comunicar essas informações científicas, razoáveis e com foco, e acabamos sendo vítimas de interpretações política-ideológica dos resultados – disse.

Riscos

No debate, Karem Friedrich, da Fiocruz, fez alertas sobre a gravidade dos casos de intoxicação registrados no país. Conforme informou, estão comprovados efeitos crônicos, após meses ou anos da exposição ao agrotóxico, como problemas no sistema cognitivo, motor e reprodutor, havendo ainda risco de aparecimento de câncer.

– Efeitos crônicos podem aparecer mesmo após exposição a pequenas doses de agrotóxicos – informou, ao cobrar a ampliação da capacitação dos laboratórios e uma melhorar atenção às populações expostas.

Na opinião de Leandro Feijó, do Ministério da Agricultura, o pequeno número de laboratórios para pesquisa de resíduos de agrotóxicos é um dos principais gargalos dos órgãos que atuam no setor.

Já Cleber Folgado, representante da organização Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos, considerou alarmante o ponto a que chegou o consumo de produtos contaminados com venenos contra pragas. Conforme ressaltou, desde 2008 o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos, inclusive de produtos já proibidos em outros países.

– Brasil está se tornando a maior lixeira tóxica do mundo – alertou.

Ao final da audiência pública, o presidente da Comissão de Agricultura, Acir Gurgacz (PDT-RO), disse ser necessário apoiar a estruturação dos órgãos que atuam no setor.

– O Brasil caminha para ser o maior produtor de alimentos do planeta e não tem estrutura mínima necessária para qualificar o nosso produto – observou, ao informar que a comissão realizará outros debates com o propósito de identificar soluções para os problemas apontados.

Preserva Mundi na Bio Brazil Fair 2012

De 24 a 27 de maio, os produtos a base de neem produzidos pela Fazenda Preserva Mundi estarão expostos na 8ª edição da Bio Brazil Fair – Feira Internacional De Produtos Orgânicos e Agroecologia, em São Paulo.

Em parceria com o Empório Ros, que comercializa produtos orgânicos, naturais e funcionais, a Preserva Mundi oferecerá uma gama de produtos aos cerca de 20 mil visitantes que buscam um estilo de vida saudável.

Paralelamente à Bio Brazil Fair acontece a NaturalTech 2012 – 8ª Feira Internacional de Alimentação Saudável, Produtos Naturais e Saúde.

A Feira

A Bio Brazil Fair reúne, numa área de 3 mil metros quadrados, cerca de 200 empresas expositoras, entre produtores e processadores de alimentos em geral, laticínios, frutas, vegetais e cereais, massas, carnes e ovos, bebidas, roupas e cosméticos; empresas de insumos, equipamentos, consultoria e certificação; e fornecedores de matérias-primas para a produção de cosméticos e biofármacos, óleos essenciais, extratos e ingredientes.

Em 2011, o evento recebeu 22 mil visitantes de vários estados brasileiros e de dez países. Desde sua primeira participação, a entrada é aberta e gratuita ao público em geral- um diferencial importante para quem participa.





Serviço

Bio Brazil Fair 2012 – 8a Feira Internacional De Produtos Orgânicos e Agroecologia
De 24 a 27 de maio
Das 11h às 20h
Pavilhão da Bienal do Ibirapuera, em São Paulo
Informações: (11) 2226-3100
Site: www.biobrazilfair.com.br / Twitter: @biobrazilfair
Facebook: feirabiobrazil

Negócios Sustentáveis: Estudos Indicam Caminhos de Transição Verde

por Fatima C. Cardoso*

O tema central da conferência Rio+20 será a economia verde, aquela que teoricamente consegue promover melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social e ao mesmo tempo reduz riscos ambientais e escassez ecológica. A definição é do PNUMA, agência para o meio ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU).

Para a agência da ONU, a economia verde é o caminho para realizar o desenvolvimento sustentável, outro conceito que foi consagrado na Eco 92, a conferência que também aconteceu no Rio de Janeiro há 20 anos. A compatibilização do desenvolvimento econômico com a sustentabilidade ambiental e social do planeta depende de um modelo econômico diferente, que considera o capital natural um bem econômico, tem baixa emissão de carbono, é eficiente em seu uso de recursos e socialmente inclusiva.

O debate sobre um novo modelo econômico torna-se crítico quando se constata que, passadas duas décadas da ECO 92, o uso descontrolado dos recursos naturais é cada vez maior e a marginalização social continua a crescer.

A preparação da Rio+20 tem gerado uma série de documentos e estudos com o objetivo de encontrar caminhos para essa economia mais inclusiva e menos destrutiva. Um grupo de especialistas mundiais em meio ambiente publicou recentemente um documento reunindo um conjunto de recomendações para os líderes governamentais sobre ações necessárias para se alcançar o ideal do desenvolvimento sustentável. Intitulado "Desafios ambientais e desenvolvimento: o imperativo para agir", o documento foi elaborado por 20 cientistas laureados com o Blue Planet Prize, concedido pela fundação japonesa Asahi Glass Foundation, e considerado o Nobel do meio ambiente.

Os cientistas recomendam no documento eliminar os subsídios em setores como os de energia, transporte e agricultura e substituir o Produto Interno Bruto (PIB) como medida de riqueza dos países. Eles defendem ainda a criação de mecanismos para conservar e valorizar a biodiversidade e os serviços do ecossistema, além de novos mercados que possam formar as bases para uma economia que contabiliza os custos sociais e ambientais. O que os cientistas querem dizer é que a transição para uma economia verde depende de um conjunto de regulamentos nacionais e políticas, além de acordos globais sobre subsídios e incentivos, mercado internacional e infraestrutura. Atualmente as instituições que norteiam a economia mundial não facilitam essa mudança, ao contrário, estimulam o status quo, como o uso excessivo de combustíveis fósseis.

Em estudo feito em conjunto com o PNUMA e divulgado durante um evento preparatório para a Rio+20 em Nova York, a empresa de consultoria global KPMG revela que a mudança é urgente e que as empresas correm riscos financeiros por não incluírem os custos associados a problemas ambientais nos seus planejamentos financeiros. De acordo com o cálculo feito por outra consultoria parceira no estudo, a Trucost, os custos ambientais não computados pelas empresas já chegam a US$ 846 bilhões. O cálculo leva em consideração 11 setores chaves como alimentos, bebidas, petróleo e gás, automóveis e telecomunicações e são estabelecidos valores para 22 impactos ambientais considerados os mais relevantes na realização dos negócios desses setores, como a emissão de gases de efeito estufa, o uso da água e a geração de resíduos.

Para ficar de olho

Selo de carbono - A rede de supermercados britânica desistiu de calcular a pegada de carbono dos 70 mil produtos à venda nas suas prateleiras. A empresa tinha se comprometido com o tema em seu plano de sustentabilidade, mas decidiu voltar atrás. A Tesco não vai mais cobrar que seus fornecedores calculem sua pegada de carbono e adotem o selo da Carbon Trust, consultoria britânica que desenvolveu uma metodologia de cálculo de inventário de emissões em cadeias de produção e a certificação Carbon Reduction Label (algo como Selo de Redução de Carbono). Para a Tesco, o processo de certificação é muito caro e demorado, além de outros supermercados não terem aderido ao esquema. O selo da consultoria britânica foi lançado em 2007 e está presente em mais de 90 marcas e 5 mil produtos, especialmente na Europa e nos EUA.

* Fátima C. Cardoso é jornalista, com Pós-Graduação em Ciência Ambiental, e especialista em assuntos ligados à sustentabilidade e responsabilidade socioambiental

Preserva Mundi apoia Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Campanha Contra os Agrotóxicos

A Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida tem o objetivo de sensibilizar a população brasileira para os riscos que os agrotóxicos representam, e a partir daí tomar medidas para frear seu uso no Brasil.

Hoje já existem provas concretas dos males causados pelos agrotóxicos tanto para quem o utiliza na plantação, quanto para quem o consome em alimentos contaminados. Ao mesmo tempo, milhares de agricultores pelo Brasil já adotam a agroecologia e produzem alimentos saudáveis com produtividade suficiente para alimentar a população.

A Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida luta por um outro modelo de desenvolvimento agrário. Por uma agricultura que valoriza a agroecologia ao invés dos agrotóxicos e transgênicos, que acredita no campesinato e não no agronegócio, que considera a vida mais importante do que o lucro das empresas.

As principais exigências da Campanha:

• Exigir que o MDA e Banco Central determinem a que seja proibido a utilização dos Créditos oriundos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF para a aquisição de agrotóxicos, incentivando a aquisição/utilização de insumos orgânicos e a produção de alimentos saudáveis;

• Exigir da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – a reavaliação periódica de todos os agrotóxicos autorizados no país, além de aprofundar o processo de avaliação e fiscalização à contaminação de água para consumo público;

• Que os governos estaduais e assembleias legislativas proibam a pulverização aérea (feita pela aviação agricola) de agrotóxicos em seus estados;

• Que o Ministério da Saúde organize um novo padrão de registro, notificação e monitoramento no âmbito do Sistema Único de Saúde dos casos de contaminações, seja no manuseio de agrotóxico, seja na contaminaçãopor água, meio ambiente ou alimentos, orientando a todos profissionais de saúde para esses procedimentos;

• Que haja fiscalização para que se cumpra o código do consumidor e todos os produtos alimentícios tragam no rótulo se foi usado agrotóxico na produção, dando opção ao consumidor de optar por produtos saudáveis;

• Aumentar a fiscalização das condições de trabalho dos trabalhadores expostos aos agrotóxicos, desde a fabricação na indústria química até a utilização na lavoura e o manuseio no transporte;

• Exigir que o Ministério Público Estadual e Federal, e organismos de fiscalização do meio ambiente, fiscalizem com maior rigor  o uso de agrotóxicos e as contaminações decorrentes no meio ambiente, no lençol freático e nos cursos d’água.

Desafios e oportunidades que marcam a trajetória dos profissionais de sustentabilidade

Diante de um cenário repleto de oportunidades, esses profissionais enfrentam muitos desafios ao lidar com conceitos ainda pouco compreendidos

Fonte: HST (Harvard Stanford MIT)

Eles são responsáveis por plantar a semente da sustentabilidade nas empresas, em instituições da sociedade civil organizada, no governo e na academia. Não importa em que local estejam atuando, sua visão de mundo está voltada às demandas do século XXI, ao desafio de aliar as dimensões econômica, social e ambiental. Às vésperas da Rio+20, um cenário de oportunidades e desafios abre-se diante dos profissionais de sustentabilidade.

“Nunca houve tantas vagas no mercado de trabalho como hoje para esses profissionais”, afirma João Francisco de Carvalho Pinto Santos, sócio-diretor da The Key – consultoria na área de sustentabilidade. Além do aumento das oportunidades de trabalho, ele destaca o atual contexto brasileiro, extremamente positivo para os profissionais da área.

“O Brasil está protagonizando um momento relevante, pois podemos ser os provedores de novas soluções para os desafios da humanidade e para o desenvolvimento de novas tecnologias sustentáveis”.

Para ele, o grande desafio dos profissionais de sustentabilidade hoje é tornar tangível o que pode parecer intangível aos olhos dos CEOs e acionistas, muitos deles ainda presos ao velho paradigma, em que tudo o que foge do ativo físico circulante deve ser administrado como custo. “Cabe a esses profissionais mostrar que a sustentabilidade é um investimento para a sobrevivência da empresa”, argumenta.

O desafio da sensibilização

Para Santos, esses profissionais têm o desafio de mostrar que a sustentabilidade se aplica a todas as áreas da empresa ou instituição em que atuam e que é possível mensurá-la por meio de indicadores. “O intangível tem que virar tangível”, diz.

Por isso, alcançar sucesso nesse trabalho de sensibilização torna-se ainda mais difícil quando se tem outra questão em jogo: a falta de alinhamento conceitual.

“O conhecimento nessa área ainda é incipiente, por isso temos grande dificuldade no alinhamento dos conceitos, o que gera uma dificuldade de entendimento”, esclarece Marcus Nakagawa, idealizador da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade – Abraps – e sócio-diretor do Setor i, empresa de gestão integral para o terceiro setor.

A Abraps possui um comitê da Rio+20 que está realizando um trabalho de coleta de postulados sobre sustentabilidade com várias grandes organizações. Nakagawa conta que, nesse trabalho, fica evidente a falta de alinhamento, pois um mesmo conceito é definido de diferentes maneiras pelas organizações.

“A base para qualquer trabalho é o alinhamento conceitual. É daí que surge o entendimento de como a sustentabilidade está presente no nosso dia a dia e como ela pode gerar resultados para todos”, defende.

Nakagawa afirma que atualmente nem todos compreendem os conceitos relacionados à sustentabilidade nem quem é o profissional que atua nessa área tão multidisplinar. “Acredito que daqui a 20 ou 30 anos, haverá um amplo entendimento sobre esses conceitos, que serão aplicados naturalmente em todas as rotinas de trabalho”, acredita.

Carreira nas médias e pequenas empresas

Nakagawa relata que de acordo com pesquisas realizadas pela associação cerca de 40% dos profissionais da área atuam em empresas ou consultorias. “Há um grande movimento de pessoas querendo atuar com sustentabilidade, gente migrando de outros setores. Todos querem trabalhar dentro da área de sustentabilidade das grandes empresas ou em consultorias que prestam serviços para grandes empresas”, afirma.

Apesar da grande visibilidade que as grandes empresas fornecem à carreira desses profissionais, Nakagawa diz que há um vasto campo a ser explorado nas médias e pequenas empresas, especialmente naquelas que são fornecedoras de grandes empresas e precisam se adaptar aos novos padrões de sustentabilidade.

“Um dos desafios da Abraps é apontar esses novos caminhos que se abrem nas médias e pequenas empresas”, conclui.

Por Daniela Kussama